Germana Monte-Mór nasceu no Rio de Janeiro em 1958. Formou-se em Artes Plásticas pela FAAP em 1989. Antes, já completara o curso de antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Talvez venha dessa dupla formação a feição segura, direta e simples que sua obra ganhou desde o início dos anos 90. Dito de maneira muito breve, a artista sempre buscou modos de traçar linhas sobre o papel que delimitassem regiões com áreas de aproximação e distanciamento.

A oposição entre proximidade e distância tem sido, assim, a articulação mais constante em sua obra. Daí que as fendas estreitas que surgem entre as formas indiquem também a distância entre massas distintas que se expandem como que para fora dos desenhos. Mesmo próximas, as formas não se comunicam de todo. São solitárias, ensimesmadas. Estão mais lado a lado do que juntas. E mais não se juntam, pode-se pensar, porque já estão o mais próximo que podem estar. Como se cada forma fosse um indivíduo, em seu isolamento e seus limites. Mas não menos em busca de se avizinhar dos outros.

Além de dois grandes desenhos em asfalto sobre papel, a presente exposição possui três séries novas de trabalhos da artista. Nas esculturas, o papel branco do desenho ganha a fisionomia de um bloco retangular de mármore, enquanto as formas pretas se transfiguram em volumes ao mesmo tempo sinuosos e facetados, numa surpreendente transposição de sua poética do plano do desenho para o espaço. Aquilo que nos desenhos é quase sempre sereno, nas esculturas se transfigura em diferentes humores: o gracioso e o engraçado, o medido e o desmedido, o criterioso e o arbitrário…

Também surpreende a ampliação poética que ganha seu desenho no painel onde cores sutis e matizadas vêm ocupar o lugar do branco. Três tipos de desenhos combinados segundo orientações espaciais diversas se arranjam numa espécie de mapa emocional. Como nas esculturas, passa-se de um oposto a outro com facilidade: do sutil ao bruto, do irônico ao sereno, do bonito ao esquisito… Tanto nas esculturas quanto no painel, as tensões e oposições de seus desenhos anteriores são ampliadas. E o “estar lado a lado” enriquece-se de sentimentos que antes não eram comunicados por suas obras.

Entretanto, na terceira série de trabalhos, de desenhos feitos apenas de linhas, sem áreas, tem-se, ao contrário, uma redução de sua poética ao mínimo. Cada desenho fala então de poucas coisas, de pequenos encontros e desencontros, não de multidões. De um modo ou de outro, porém, as obras de Germana Monte-Mór são sempre metáforas precisas de nossa condição ao mesmo tempo gregária e solitária. Vidas semelhantes e assemelhadas, mas cada uma com seu destino único.