Marília Razuk Galeria de arte, São Paulo, SP, 1998

Há várias oposições em jogo na última série de desenhos de Germana Monte-Mór. A mais saliente logo se mostra entre as áreas pretas e brancas. Esta acentua-se pelas diferenças entre o tecido, leve, algo transparente, que porta o branco, e a massa de asfalto, densa, rugosa, que suporta o preto. O desenho das formas pretas possui certa regularidade, um padrão, mas o que poderia, grosso modo, ser reduzido a polígonos, é sempre contornado por uma linha irregular que alterna os momentos côncavos e os convexos. A uma tal alternância opõe-se a reta que corta as formas junto às bordas do tecido. Cheios e vazios, solidez e indefinição, são mais duas oposições, entre outras, que os desenhos estabelecem.    

Há regiões dos desenhos em que as duas formas pretas estão muito próximas. Proximidade que ganha intensidade diante do aspecto vasto das áreas brancas. Parece ser a oposição entre proximidade e distância que articula as demais oposições. O olhar é sempre chamado para as fendas que aí se formaram. Mesmo quando se expande para o restante do desenho nunca se separa inteiramente das brechas uma vez vistas. Ainda que próximas, as formas, entretanto, não se comunicam de todo. São  solitárias, rochas, e estão mais lado a lado do que juntas. Há nisto um sentimento do mundo. Em face da amplidão e dos apelos do vago e do inefável, as formas se buscariam, se agregariam. Poderiam fundir-se, já não estivessem tão próximas quanto a cada uma é destinado estar.